O que você doaria pra esses museus? 🖼️
O Museu das Relações Rompidas e o Museu dos Amuletos Mágicos
Si preferís leer este texto en español, te dejo la traducción aquí.
Há um tempinho fiz um curso chamado “Todo es escribible”, da autora
(da qual sou grande fã!). É um curso online, os vídeos estão gravados, então é ótimo pra fazer no seu próprio tempo, sem se apressar. A Aniko oferece todo tipo de material para praticar a escrita e uma das suas ferramentas que mais me inspirou nos últimos tempos foi esse curso. Até hoje, reflexões que tive lá alimentam minhas ideias e continuo escrevendo com as dicas e promtps que a autora nos mostra nessas aulas.Um exercício super impactante que fiz durante o curso foi pensar sobre os objetos que eu doaria para dois museus de mentirinha, mas com um sentimento muito real: o Museu das Relações Rompidas e o Museu dos Amuletos Mágicos. O primeiro seria o museu que simboliza todos aqueles vínculos que precisamos deixar pra trás ou que infelizmente fomos obrigados a terminar pela razão que fosse. Já o segundo seria um lugar pra homenagear todos aqueles objetos que nos ajudam a seguir em frente, nossos talismãs.
Os trechos a seguir são sobre duas das coisas que eu decidi doar, coisas das quais precisava urgentemente me desfazer pra poder seguir em frente. A Aniko é assim, faz a gente pensar sobre nós mesmas e usar o que vivemos e sentimos como combustível pra nossa escrita. Afinal de contas, tudo pode virar história. Inclusive os objetos que nos rodeiam.
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Pro Museu das Relações Rompidas doei minha balança para colocar, finalmente, um fim na minha relação tóxica com meu corpo. Comprei essa balança pra acompanhar meu peso em um momento que estava com a ideia fixa de emagrecer. Desde que tenho memória me sinto fora de peso. Sempre acontece o mesmo ciclo: sinto que sou gorda e, por isso, feia, incapaz, indesejável, etc; logo, o tempo passa, vejo uma foto minha daquela época e penso “nossa, estava super bem! agora sim estou gorda”, e voltam os mesmos sentimentos horríveis num loop que não termina nunca. Sempre era melhor antes, sempre estou pior agora. Nunca satisfeita com meu corpo, nunca sentindo que sou 100% suficiente. Pois chega! Não quero mais saber de guerra comigo mesma. Há anos venho trabalhando o autocuidado e o amor-próprio e me sinto muito mais confortável no meu ser. Há meses não me peso, mas a balança continua aí, debaixo do armário, uma presença ameaçadora. Um lembrete de toda a aversão que já senti por mim mesma. É hora dela ir embora, seguir seu caminho, e me deixar aqui, vivendo uma vida saudável, sim, mas não obcecada com numerinhos em uma tela. Eles não têm o poder de medir o meu valor como pessoa. Nenhuma máquina tem.
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Pro Museu dos Amuletos Mágicos deixo um ratinho de pelúcia que foi brinquedo do meu primeiro gatinho, o Thelmus. Quando Thelmus morreu, sofri como nunca antes. Só sabia chorar e me castigar, sentia o peso da culpa nos meus ombros como uma carga impossível de carregar. Estava paralisada e dormir era uma tortura. Só conseguia conciliar o sono se apertava com força o ratinho de pelúcia. Me lembro de colocar a cabeça no travesseiro e com uma das mãos buscar o ratinho de brinquedo pra apertá-lo com força. Sentia a textura áspera do brinquedo, já meio estragado de tanto ter sido alvo das garrinhas e dentinhos do Thelmus, e me sentia mais próxima dele. Ter aquele objeto em minhas mãos me tranquilizava, suavizava a dor. Parecia que ele estava ali comigo, ou ao menos uma parte dele ainda permanecia lá. Sonhava com o Thelmus brincando em um céu de gatos cheio de comidinhas, brinquedos e carinho, e me sentia um pouco melhor. Porque sabia que a única coisa maior que minha culpa era o tamanho do meu amor por ele, e esperava que isso bastasse pra garantir que ele estivesse em um lugar melhor. Esse amuleto me permitiu seguir em frente e lidar com o luto. Quem sabe outras pessoas não poderiam se beneficiar dele também?
E você, o que doaria pra cada um desses meuseus?
Mais leituras que abraçam:
📦 Depósito de mágoas, de Laura Athayde
Eu não diria que sou uma pessoa rancorosa. Mas com certeza sou uma pessoa magoada. Tenho o mau hábito de alimentar esses monstrinhos internos que nascem das lembranças ruins. Penso demais neles e acabam ficando grandes e incômodos. É aí que mora o perigo, porque eles podem acabar me engolindo inteira.
👁️ Nevoeiro #17: um corpo; cobrir e descobrir; o controle social da beleza, de Carol Bensimon
Variações desta cena são corriqueiras para muitas mulheres: vou correr em um lugar onde há um certo movimento. Estou usando roupas justas porque a atividade exige. Sigo no meu ritmo de aprendiz de corredora enquanto escuto música nos fones de ouvido. A alguns metros de mim, vejo um cara me escaneando com olhar lascivo. Quando passo por ele, ele me diz alguma coisa que se perde entre o barulho do mar e alguma canção encorajadora dos anos oitenta, de maneira que tudo o que consigo escutar é a palavra “corpo”. Uma hora depois, na saída do supermercado, um outro cara me olha e diz: “você tem um corpo bonito”.
💎 Cabeça de vento
Sou descuidada com minhas coisas. Sempre fui. Perco, quebro, estrago. Não sei onde coloquei, não sei onde foi parar. Uma infinidade de pequenos tesouros perdem seu brilho em minhas mãos. Quando percebo que perdi ou quebrei algo, me irrito. Pô Regiane, de novo! Não posso acreditar. De novo. Não consigo mudar, mas também não consigo aceitar esse meu traço nada charmoso.
Março foi sobre:
🛫 Viajar! Saímos de férias e durante dois semanas passeamos por Amsterdam, Dublin e vários lugares na Islândia. Maravilhoso!!! Compartilhei vídeo e várias fotinhas lá no Instagram.
📚 Mesmo viajando deu pra ler bastante, com destaque pra “Cabelo-nuvem” da Janaína Esmeralda, história em quadrinhos fofíssima, e “Women Talking”, de Miriam Toews, uma história sobre uma comunidade religiosa e como lidam quando suas mulheres são atacadas por homens da própria comunidade.
✒️ Fazer uma tattoo nova :) Ficou uma gracinha.
💿 Escutar o novo álbum do Mumford & Sons - gostosinho demais. Também escutei bastante o último álbum da Selena Gomez e maratonei toda as teorias da conspiração dela e do Justin Bieber. Puro suco da fanfic!
💌 Ficar completamente viciada na história de amor que esse tiktoker começou a criar quase sem querer no seu perfil: Nate & Lyle.
💜 Ir pra rua no dia da mulher, como venho fazendo há anos. Que sensação de abraço é estar cercada de tantas mulheres reinvindicando as mesmas coisas…
🏆 Assistir Ainda Estou Aqui de novo, dessa vez com legenda em espanhol com as amigas aqui no Uruguai. E me emocionar de novo com a beleza dessa história tão bem contada.
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Si preferís leer este texto en español, te dejo la traducción aquí.
Lindo texto.👏👏👏👏👏
Nossa, amiga, eu amei a edição! E fiquei curiosa com o curso, aonde vc fez?
Já leu um livro chamado o museu do silêncio? É de uma escritora japonesa e gostei muito!