Si preferís leer este texto en español, te dejo la traducción aquí.
Toda vez que minha vó me vê ela diz (às vezes mais de uma vez) que preciso ter um filho. E logo fala que preciso voltar pro Brasil, afinal, quem irá cuidar da minha mãe quando ela estiver velha? Com essas palavras mesmo. Quando escuto essas coisas, minha vontade de visitar a vó diminui. Ela me lembra de novo e de novo que sou uma mãe de mentira e uma filha ingrata.
Eu amo a minha vó e sei que suas palavras são frutos da sua geração, da sua época e das vivências que teve. Sei que ela não fala essas coisas por mal e que realmente se preocupa por mim. Minha vó é especialista no passar do tempo e imagino que tem medo de que o tempo passe pra mim e que seja tarde demais. Tarde demais pra ser mãe, tarde demais pra estar com a minha mãe.
Suas palavras me incomodam porque eu conheço muito bem esse medo.
Me apavora pensar que, quando finalmente surja a vontade de ser mãe, eu já não consiga ficar grávida. Tenho pesadelos com um dia acordar com um telefonema do meu irmão avisando que algo terrível aconteceu com a mamãe e que um vôo de duas horas e meia me separa deles.
No fundo, as duas coisas têm menos a ver com o tempo e mais com o arrependimento: tenho mais medo da culpa de não ter aproveitado melhor o tempo do que desses fatos em si. Imaginar a dor que carregaria por não haver feito, por não haver estado.
Tempo, seu tirano. Foi você que colocou as rugas no rosto da minha vó e que a debilitou, que a deixou datada, com crenças e pensamentos tão canceláveis. E também foi você que outro dia na frente do espelho me mostrou que nasceu meu primeiro fio de cabelo branco.
Sempre que minha vó me diz essas coisas eu faço alguma gracinha e mudo de assunto. Não vou deixar de visitá-la, claro que não. Preciso dela, do seu afeto meio torto, das suas orações, das suas receitas, do seu sorriso de anjo e também das suas palavras que ferem. Elas me mantêm alerta para o tempo e suas artimanhas.
Mais leituras que abraçam:
💤 Dias de luto, noites de insônia
Porque a morte tem dessas coisas né, o efeito que ela causa em nós aparece em capas, como uma cebola: quando você consegue tirar uma, logo descobre outra embaixo, depois outra, mais outra, e assim sucessivamente.
⚱️ Birthdays
My grandmother took me to grave sites. Her sisters. Her parents. A friend she had in her 30s when she worked in the USSR. And I became obsessed with beginning and end dates. Finding them on tombstones. Calculating how close someone was to their birthday when they died.
🤔 Tudo que poderia ter sido se…
Às vezes penso em toda a energia extra que teria se não passasse tanto tempo dando voltas e voltas na cama antes de domir, pensando em tudo e nada, revivendo os erros do dia e maquinando sobre coisas que ainda não aconteceram.
Maio foi sobre:
🎂 Meu niver!!! 32 aninhos and counting ;) Me fez lembrar desse texto que escrevi quando estava chegando na casa dos 30.
📺 Desbloquar uma nova obsessão com o canal do Kevin Langue, no qual ele e seus amigos adivinham coisas. Não posso falar mais nada, só entrando no canal pra entender.
☕ Me apaixonar pela Sabrina Carpenter - quem não? Primeiro Expresso, depois Please Please Please (com direito a clipe com o seu Barry), tô escutando as músicas da gata no repeat.
📚 Muita leitura. Meu top 3 de livros concluídos em maio: Cupim (thriler feminista), Esto no es un hogar (intimista, saúde mental) e The Dark Forest (segundo da trilogia do problema dos três corpos)
❤️ Outro livro: o querido Jhonata Fernandes está lançando seu primeiro livro, Amores cômicos e vidas reais, com pósfacio assinado por mim! Tô chique.
Se gostou dessa edição da news, você também pode gostar dessa aqui:
A
, essa querida autora amiga e viajeira, adorou meu último livro.E você, já leu ”Mulheres que não eram somente vítimas”?
Poxa vida, sua vó se parece muito com o bichinho que mora dentro da minha cabeça e cujas frases começam sempre com "e se..."
Com o passar do tempo, vamos acomodando todos os nossos "E se(s)..." dentro de nós.
É bom para nos mantermos alertas mesmo!
É igual a lama. Dizem que é muito bom pra pele, mas não podemos deixar entrar na boca e engolir.
E com isso vamos aprendendo a guardar cada coisa que recebemos dentro da nossa casa mental. Adorei o texto. Obrigado por compartilhar!