O espaço que a dor ocupa
Escrevendo e lendo sobre depressão, luto e outras dores
Si preferís leer este texto en español, te dejo la traducción aquí.
Viver com depressão é difícil. Viver com alguém que tem depressão também é difícil.
A dor da pessoa com depressão se expande para além dela. Sinto sua tristeza por toda a casa, esbarro nela o tempo todo, é impossível não tropeçar ou dar de frente com esse sentimento tão concreto, tão intenso.
A dor da pessoa que está passando por essa doença mental ocupa espaço e muitas vezes sinto que não deixa lugar para a minha própria dor. Porque embora eu não esteja vivendo o mesmo que ela, também tenho minhas questões. Também fico triste, também fico com raiva, também sinto. Também mereço sentir. Porém, frequentemente não me permito sentir, com medo de colocar lenha na fogueira. Com medo dos nossos sentires ocuparem tanto espaço que terminem nos esmagando.
Eu sei que a pessoa com depressão não quer fazer mal pros demais. Não quer que sua dor seja tão massiva; na realidade acredito que tudo que mais deseja é que suas emoções diminuam de tamanho até ficarem bem pequenininhas. Pequenas e gerenciáveis. Só que às vezes, por estar tão imersa em seu sofrimento, não se dá conta de como isso afeta aqueles com quem dividem um teto.
Viver com depressão é difícil. Sinto muita empatia pelas pessoas que precisam enfrentar essa doença. E também sinto empatia pelos que as acompanham. Pelas mães e pais, maridos e esposas, avós, tios, irmãs, amigos. Pelos que olham a depressão nos olhos e sorriem, encorajadores. Pelos que deixam sua própria tristeza de lado para poder apoiar o outro. Pelas que se colocam em segundo plano porque sentem que toda sua atenção é necessária em outro lugar.
Saibam que sua dor é sentida aqui.
Mais leituras que abraçam:
🌌 Ninguém sabe ao certo o que acontece dentro de um buraco negro
A fusão da raiva, medo, cansaço e desespero, todas essas emoções que fui sentindo à conta-gotas e guardei sem perceber terminaram gerando esse fucking buraco negro. Sua órbita tem força, quer arrastrar meu sorriso falso, desintegrar a máscara, consumir tudo até se consumir no todo e deixar de existir.
No auge da autoconfiança, da esperança no futuro, o áudio do tio distante lhe mostrou que felicidade plena é utopia. A voz embargada informava que o avô, também distante, havia falecido. Ela estava no meio de um evento do estágio, rodeada de tarefas e responsabilidades. Enviou uma mensagem impessoal de pêsames e guardou o sentimento.
🩹 Como se chama isso que sinto?
Essa tristeza que não sei bem porque ou como surgiu.
Parece que há uma máquina de soro conectada às minhas veias.
Invisível, mas presente.
Do tubinho de plástico escorrem gotículas de melancolia
Que entram no meu corpo.
Novembro foi sobre:
📖 “Tesis sobre la domesticación”, último livro da maravilhosa Camila Sosa Villada. Falei sobre ele na minha outra edição da news. Em novembro pude ver a autora de perto em um evento aqui em Montevidéu e isso fez eu me apaixonar ainda mais pela sua obra.
🎧 Esse mês participei do podcast Matriarkas e tivemos uma conversa muito gostosa com a host e criadora desse canal, Antoniele. Delícia de conversa sobre literatura, feminismo, mudar de país e muito mais.
📺 Não resisti e assinei Star+. Assim que comecei a ver The Bear, validei que foi uma boa decisão! Essa série maravilhosa acompanha a vida de um chef e sua cruzada para manter em pé o restaurante que seu irmão lhe deixou. Os episódios sempre me deixam com fome e agitada. Mas que a trama é boa, ah isso é mesmo.
🐈 Boa parte do conteúdo que consumo na internet são gatos fazendo coisas doidas ou fofas (ou ambas). Minha amiga me passou esse perfil no Twitter e foi minha perdição - horas e mais horas vendo essas bolas de pelos malucas! Recomendo pra quem quer procrastinar.
💃 Minha mamis e uma tia vieram visitar a gente aqui no Uru. Passamos dez dias passeando pela capital do país, que é meu lar há 9 anos, mas ainda assim turistar no nosso próprio lar sempre rende boas surpresas, não é mesmo? Destaque pro passeio que fizemos no Palacio Salvo e seu Museo del Tango - ficam ao lado de casa e nunca tinha ido.
.
E esses últimos meses, como foram por aí? Me conte nos comentários ou pelo Instagram ou Twitter.
Se gostou dessa edição da news, você também pode gostar dessa aqui:
Obrigada.
Lindo texto! A depressão é realmente uma doença muito espaçosa e difícil de lidar no dia a dia, pq parece que o desânimo e a tristeza contagiam o ambiente inteiro.