Si preferís leer este texto en español, te dejo la traducción aquí.
Eu nasci em São Paulo, mas vivi boa parte da minha vida em Caraguatatuba, no litoral norte do estado. Caraguá é uma cidade para se andar de bicicleta. Há muitos carros, sim, e ônibus também. Mas andar de bicicleta em Caraguá tem uma magia especial. Além disso, o trajeto que faremos hoje nessa newsletter passa por uma parte da cidade que possui ciclovia, portanto, mais um motivo para pegar a magrela e vir comigo nesse city tour imagináio!
Começamos saindo com nossas bicicletas da minha casa, que fica a umas oito quadras da praia. Mamãe acena para nós do portão quando começamos a pedalar. Pra ir de casa até o calçadão que contorna a costa é só seguir uma linha reta, uma rua larga com pouco movimento, ideal para nos acostumarmos com a mecânica das bicicletas. Não sei você, mas eu só pedalo em Caraguá, então não sou a ciclista mais experiente.
Em poucos minutos chegamos ao calçadão, que é como os locais chamam essa calçada estendida, espaçosa o suficiente para abrigar pedestres, pessoas praticando esportes, mães com carrinhos de bebê, vendedores de milho verde, cachorros de rua e de coleira, e também nós, que continuamos a pedalar ao ladinho do calçadão, na ciclovia que o acompanha.
A praia mais próxima da nossa casa se chama Aruan e o calçadão percorre quase toda a costa da cidade, então enquanto seguimos nosso passeio passaremos por muitas outras praias. Pegamos o caminho à esquerda, que leva ao centro de Caraguá. O sol está brilhando em um céu ridiculamente azul - um dia maravilhoso para um passeio assim… Do nosso lado direito vemos a areia, os quiosques, o mar brincalhão e suas ondas; do outro lado, a Avenida da Praia com seus carros, suas palmeiras, seus prédios antigos e novos.
Pedalamos e passamos pelo bairro onde morei nos meus primeiros anos em Caraguá e me pergunto como estará hoje o prédio que construíram sobre a casa que já foi nossa. Pedalamos e passamos por um quiosque onde meu primeiro namorado e eu costumávamos nos esconder para dar aqueles amassos e me pergunto como ele estará agora - acho que ainda mora em Caraguá. Pedalamos e passamos pela escola onde aprendi inglês e fico imaginando como estarão as teachers, sempre tão doces e pacientes. Pedalamos e pedalamos e logo chegamos a uma ponte que separa um lado da cidade do outro. Sob a ponte há um pequeno rio que deságua no mar. Lá, me lembro da vez em que uma amiga e eu fomos assaltadas enquanto caminhávamos compartilhando nossos fones de ouvido para ouvir música em um MP3 (entregando minha idade aqui). O bandido passou de bicicleta, ficamos sem o MP3, minha amiga chorou e eu tive um ataque de riso, uma forma estranha de reagir quando fico nervosa. Pelas dúvidas, pedalo mais rápido nesse trecho.
Quando passamos a ponte, já estamos no centro e a cidade fica mais animada. A praia muda e deixa de ter tanto destaque: em seu lugar aparecem enormes restaurantes, quadras de tênis ou campinhos de futebol, barracas de açaí e sorvete, estacionamentos. Há mais barulho, mais carros, mais pessoas. Pedalamos sem parar até chegar a um mini parque de diversões, pequenino, mas digno, com seu carrossel e até uma discreta montanha-russa. Em frente ao parque, do outro lado da avenida, fica o shopping. Mas não espere muito, é apenas um quadrado de dois andares que você consegue percorrer rapidamente. Muitas coisas em Caraguá são assim, versões reduzias das atrações originais.
Decidimos parar um pouco e descansar, pois pedalar cansa. Descemos das bicicletas e, enquanto recuperamos o fôlego, olho para o shopping e sorrio, lembrando da primeira vez que minha mãe me deixou sair à noite com as amigas. O plano era encontrar-nos em frente ao shopping por volta das nove horas, comprar um açaí e caminhar pra lá e pra cá, sem rumo. Não havia muito mais o que fazer, especialmente quando se tem 15 anos e os bares e baladas não te deixam entrar. Então, nós comíamos e andávamos, conversando, rindo, paquerando. À meia-noite mamãe passava de carro pra me buscar, nem um minuto a mais, nem um a menos.
Já recuparadas, é hora de continuar nossa jornada. Voltamos a pedalar e logo passamos por uma praça onde há várias barraquinhas fechadas naquele horário, mas que mais tarde vão ficar todas iluminadas em uma feira de artesanato que poderíamos visitar depois, se você quiser. Pedalamos e passamos pela pista de skate que eu nunca frequentei, porque nunca tive o perfil fadinha, mas observo as pessoas e me pergunto se uma amiga skatista dos tempos de escola ainda fica por lá. Pedalamos e passamos por mais alguns prédios e lojas e então o cheiro de peixe nos recebe com força total: chegamos ao camaroeiro, uma região da cidade conhecida pela sua pesca. De um lado podemos ver os barquinhos coloridos trabalhando na água e do outro vemos os mercados de peixes e frutos do mar.
Pedalamos um pouco mais e logo o calçadão com sua ciclovia se divide. Um caminho nos leva para longe da praia, para dentro de um bairro residencial e, se continuássemos por mais um tempo, chegaríamos no pé do morro Santo Antônio, atração turística com uma das mais belas vistas da cidade. O outro caminho nos leva a outro mirante, construído recentemente e bem mais baixo que o morro, mas que ainda assim entrega uma vista interesante de boa parte das praias. Acabo levando você pela terceira opção, um caminho escondido, sem calçadão nem ciclovia, mas que eu preciso ver.
Começamos a pedalar por uma rua de terra, uma subida que percorremos com esforço. Subimos e subimos até chegar a um ponto que considero alto o suficiente. Damos a volta em nossas bicicletas, apontando para baixo, e eu te conto que, quando era adolescente, sempre pedalava até aquele lugar com uma amiga. Nossas mães não permitiam que fôssemos ao morro Santo Antônio e, naquela época, não havia outro mirante, então nossa diversão era pedalar pelo calçadão e acabar ali, naquela rua meio morta. Subíamos até esse ponto e depois descíamos pedalando com todas as nossas forças até alcançar a maior velocidade possível. Enquanto descíamos, sentíamos o vento no rosto e aquela adrenalina intensa, pois sabíamos que, se nos descuidássemos, acabaríamos perdendo o controle e nos jogaríamos com tudo na avenida movimentada lá embaixo. Mas, naquela idade, não conhecíamos o medo. Então, pedalávamos cada vez mais forte, cada vez mais rápido, até chegarmos à ciclovia e, em um movimento estratégico, virávamos à esquerda e começávamos a voltar pelo caminho que nos levara até ali.
Hoje eu conheço o medo e o sinto crescer em meu peito quando olho para baixo e vejo a estrada de terra que subimos agorinha. Identifico cada pequeno desnível, cada perigo que poderia nos derrubar, cada lugar onde poderíamos nos machucar terrivelmente. Mas a nostalgia daquela aventura de adolescente me dá a coragem necessária para tomar uma decisão. Eu olho para você com um sorriso no rosto e você balança a cabeça dizendo que sim. Colocamos nossos pés nos pedais, contamos até três e começamos a descer.
Mais leituras que abraçam:
🏖️ Ontem e hoje em Caraguatatuba
O nome oficial é Caraguatatuba. Na língua dos povos nativos dessa região, significa “lugar de muitas caraguatás”, sendo a caraguatá uma planta, espécie de bromélia com flores exuberantes que abundava nesse lugar. Hoje não sei se é fácil encontrar caraguatás por lá.
🏜️ Soy loca por ti ~latinoAmerica (por
)Finalmente eu consegui fazer uma viagem que sonhava há anos: conhecer o Deserto do Atacama, no Chile, e o Salar do Uyuni, na Bolívia. Foram 14 dias e 13 noites no total: 4 em Santiago, 5 no Atacama, 4 no Uyuni e um só pros vôos de volta. É difícil colocar em palavras a magnitude dos altiplanos Andinos, mas estou aqui pra tentar.
🗺️ Lugares por onde passamos
Tenho um tio todo místico que me disse algumas vezes que os lugares inusitados para onde já viajei são na realidade locais onde vivi em vidas passadas. Achei um luxo imaginar eu toda internacional vivendo aqui e acolá nas minhas existências anteriores, mas, que pena, não consigo lembrar de nada.
Junho foi sobre:
👩👧 Passear com a mamis que veio de visita aqui pro Uruguai. 10 dias de puro amor, boas conversas e boas comidinhas!
📚 Ler quadrinhos, livro físico, ebook, terror sci-fi, aventura hollywoodiana e por aí vai.
🥶 Passar um frio lascado - tivemos duas semanas de puro gelo em Montevidéu. Com cada camada de roupa que tenho que colocar aumenta a dor nas costas e o mau humor…
🐻 Maratonar a temporada 4 de The Bear, acho que terminei todos os episódios em um dia e meio. Gostei muito mais que a temporada 3, mas como sempre fiquei com gostinho de quero mais.
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O que você doaria pra esses museus? 🖼️
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Que lindo Regiane, adorei conhecer Caraguá pelos seus olhos <3 E obrigada pela menção!! <3<3
Regie, quando fico muito nervosa tenho ataque de riso também. hahahaha sempre nos momentos mais inapropriados fico soltando risadinhas e tentando me conter.
amei passear com vocês.
um beijo!!