Conheci a
aqui no Substack. Logo de cara me apaixonei pelos seus textos, ora engraçados, ora filosóficos, ora as duas coisas juntas. Ela é uma das escritoras mais prolíficas de todas as newsletters que assino e semanalmente tenho novas crônicas e reflexões suas na minha caixa de entrada. Um dia, descobri que além de escrever por aqui, ela também escreveu livros e um deles, “Sonhei que a neve fervia”, chamou minha atenção.A primeira coisa que me impactou foi a capa. Simples, sóbria, minimalista. Me pareceu muito diferente da alegria dos textos da Fal, dos relatos extrovertidos e carismáticos que eu encontrava nas suas newsletters. Em seguida li a sinopse e entendi. Esse livro fala de um tema simples, sóbrio e o mais minimalista de todos: a morte de uma pessoa amada.
“Não deixe que a dor cale suas palavras", dizia o e-mail que a escritora e tradutora Fal Azevedo recebeu dias após a morte do marido, Alexandre, em agosto de 2007. Mas como continuar depois uma perda como essa? Como acordar, escovar os dentes, trabalhar? A incredulidade, a raiva e a tristeza, e também o relato do amor de uma vida e da solidariedade e carinhos oferecidos por amigos e desconhecidos estão em Sonhei que a neve fervia, novo livro da autora de Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite. E em meio à dor, Fal (re)encontrou sua voz – culta, engraçada, ferina, auto-depreciativa, mas, ao mesmo tempo, brutalmente honesta e transparente. É pela escrita – seja por meio de textos publicados em seu blog, o popular "Drops da Fal", reflexões, e-mails e mensagens de amigos e seguidores do site – que o leitor acompanha a jornada da autora. Às vezes, impotente diante da impossibilidade de mitigar um sofrimento tão além do que parece ser possível; outras, com um sorriso no rosto e uma gargalhada ao ler um comentário espirituoso. Entre detalhes do cotidiano, como os transtornos causados por um cano furado, e reflexões sobre o luto e a luta, Fal Azevedo deixa um testamento de sua história – a história de um grande amor. Por isso mesmo tão singular, e tão universal.
Por que ler “Sonhei que a neve fervia”?
Preciso confessar uma coisa pra vocês. A morte é um tema que me fascina. Quando descubro que alguém morreu, preciso dos detalhes. Como, quando, o porquê. Consumo true crime em massa e as histórias de mistério que envolvem assassinato são as minhas favoritas. Acredito (e espero) que não tenha nenhuma tendência pra virar vilã! Acho que a razão é algo bem menos interessante. Preciso ler sobre a morte, dissecá-la, entendê-la, porque nunca encontrei sentido pras perdas dolorosas que vivi. Preciso ler sobre isso pra me manter sã.
Li o livro da Fal e me reconheci na sua dor. Entendi bem do que ela falava quando tentava racionalizar e conviver com o impossível. A morte inesperada de seu marido faz a realidade da autora virar de cabeça pra baixo e na obra ela nos mostra os passos que deu para aprender a viver uma nova vida.
O formato como o livro está escrito é maravilhoso. Por meio de cartas e mensagens que a Fal troca com suas amizades, familiares e até mesmo com o próprio marido, ela vai registrando a sua vivência por dias e meses. São relatos crus, reais, por vezes sarcásticos, muitas vezes cheios de amor. Sentimos que somos uma amiga mais acompanhando o luto da escritora desde o momento que a fatalidade acontece até chegar a um ano depois do ocorrido.
Por todas essas razões, e se esse tema também te interessa ou se está buscando aconchego para suas próprias perdas, acredito que ler “Sonhei que a neve fervia” pode ser o bálsamo que está precisando.
Por que não ler?
Temas como morte, luto e depressão nem sempre são as melhores opções pra algumas pessoas em alguns momentos. Eu mesma chorei diversas vezes e precisei parar a leitura pra dar uma recuperada. Se agora não é o timing correto, não se apure. Cada um sabe da sua dor pra poder dar lugar a ela da forma como for menos angustiante.
O formato meio diário, meio epistolar do livro também pode não ser do agrado de todo mundo. É um estilo bastante diferente do que estava acostumada, então fica o aviso pra quem preferir livros com uma estrutura mais tradicional.
Mais sobre o livro e a autora:
“Um ano. Um ano todo, 12 meses inescapáveis. Quando as pessoas se admiram com quem segue a vida e usam palavras como ‘coragem’ e ‘força’, elas não sabe de nada. Nada. Elas não entendem que segue-se em frente porque é o único lugar que temos para ir. Era o único lugar pra onde eu podia ir, agora que você não está mais aqui”.
Fal Azevedo, “Sonhei que a neve fervia”
A Fal é tudo. Comecei a acompanhar o trabalho dela no Drop’s e foi uma conexão instantânea. Eu amo demais e recomendo sempre, em qualquer oportunidade.
É lindo demais esse livro!!