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O livro de hoje é um clássico da literatura brasileira que logo logo completará 100 anos de publicado:
Sinopse: No fundo da floresta amazônica, ao som do murmurejo do rio Uriracoera, nasce Macunaíma, o herói do povo brasileiro. Publicado pela primeira vez em 1928, Macunaíma o pinta um Brasil antropofágico de si mesmo, baseado em mitos de povos indígenas da região amazônica e com um extenso vocabulário regional.
Faz pouco tempo que li Macunaíma, um livro muito conhecido no nosso país e até fora dele. Ganhei de presente uma edição especial repleta de ilustrações maravilhosas e não pude mais deixar essa história pra depois. E que bom que tomei essa decisão! Tem presente que realmente chega na hora certa ❤️
O livro foi lançado em 1928 e seu autor é o escritor Mário de Andrade, um expoente da icônica Semana de Arte Moderna de 22. A história de Macunaíma é cheia de tretas e dramas, já que nosso herói não passa um segundo sem se meter em alguma confusão. Isso porque ele vive com preguiça, imagine se não? Macunaíma coleciona amores, fãs e inimigos por onde passa, já que viaja por todo o Brasil em busca de um amuleto mágico e aproveita pra viver todo tipo de confusão e delícias.
É um livro que segue a linha do realismo mágico graças a essa mistura entre realidade e fantasia que o autor usa tão bem. Macunaíma é um homem de carne e osso, mas também pode mudar seu corpo, como a cor da pele ou de tamanho, pode correr por dias a fio, e pode até mesmo virar bicho. Assim como ele, os demais personagens estão sempre brincando com os limites do real e a sensação de faz-de-conta é constante durante o desenrolar da história.
Às vezes parece que estamos lendo uma fábula, às vezes uma lenda, às vezes uma carta, e por aí vai. Mário de Andrade brinca com os formatos e a linguagem de um jeito que surpreende a cada capítulo.
Por que ler “Macunaíma”?
O nome do livro é o nome do seu personagem principal, o herói sem nenhum caráter que vive aventuras pelo país, indo da selva à cidade grande. Não somente viajamos pelo Brasil com Macunaíma, mas também nos conectamos com nossa ancestralidade, nossas riquezas naturais, nosso folclore e cultura. E refletimos sobre essa representação de alma brasileira que o anti-herói tão bem personifica: a busca pelo prazer, a necessidade de tirar proveito de toda situação, a explicação do mundo pela espiritualidade, o jeitinho brasileiro, enfim.
Não é uma leitura fácil, já que estamos falando de uma obra de quase 100 anos que mistura o português formal com o falado, além de diferentes regionalismos do nosso país e dialetos indígenas. Mas justamente essa diversidade nas formas de se expressar (todas brasileiras, todas nossas) foi algo que desfrutei muito no processo de leitura. Me senti conhecendo mais sobre meu país e essa diversidade multicolorida que carregamos nos corpos, nos pensamentos e até mesmo na linguagem.
O livro recupera muito das nossas raízes indígenas, já que Macunaíma lida com deuses e outras figuras dessa cultura, e muitas de suas ações estão baseadas em crenças e na espiritualidade dos nossos povos originários. A história do herói se cruza com grandes personagens do folclore brasileiro, como o Curupira, o Bumba-meu-Boi, e outros.
Além dos personagens folclóricos, o livro também dá indícios de algumas fofoquinhas boas daquele tempo, já que Mário de Andrade traz pra história personagens da vida real como outros autores e artistas, políticos, entre outros.
Por que não ler?
Para ler um livro escrito há um século é necessário paciência, principalmente pelos desafios da linguagem que já comentei antes. Se estiver buscando uma leitura fácil e rápida, esse não é o livro. Outro ponto importante: como uma obra dos anos 20, a história às vezes nos choca nos dias de hoje, já que retrata situações de violência, machismo, racismo, e por aí vai. Novamente, é preciso se lembrar da idade que essa obra tem. Além disso, justamente o escritor quis representar (e criticar) algumas das piores coisas que identificava na cultura e sociedade brasileira da época - algumas das quais, infelizmente, continuam vigentes.
Mais sobre o livro:
Deixo alguns conteúdos que trazem mais info sobre o livro.
Fiz alguns vídeos falando sobre o livro lá no Instagram e tiktok.
O filme de 1969 baseado na obra está disponível na íntegra lá no Youtube.
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
-Ai que preguiça!…”
Mário de Andrade, “Macunaíma”
Mario de Andrade é rei.
Não consegui gostar de Macunaíma. Não me pegou. Reconheço a importância dele para a literatura, mas a leitura não me desceu.
Um beijo!