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Há algum tempo saí pra tomar um café com duas amigas muito queridas aqui do Uruguai e, como sempre, conversamos sobre livros. Uma delas havia estado há pouco tempo na feira do livro de Montevidéu, que acontece todos os anos. Uma das coisas que chamou sua atenção enquanto passeava pelo evento foi uma nova edição de uma saga de terror. Minha amiga ficou impressionada pela beleza das capas e logo descobriu que se tratavam de partes de uma série que relata a história de um matriarcado. Os livros, escritos pelo autor estadounidense Michael McDowell, são da década de 80. Na hora minha reação foi, “um livro sobre um matriarcado, escrito por um homem? Hoje não, Márcio”.
Corta pra dias depois eu indo na mesma feira do livro e me encantando pelas mesmas capas que tinham chamado a atençao da minha amiga. Ela não comprou os livros, mas eu, totalmente esquecida da nossa conversa e do nome da saga, caí na tentação e levei comigo o primeiro livro. Completamente contraditória a mulher, fala sério!
Felizmente, não me arrependi da decisão. Julguei o coitado do autor cedo demais, acho. Inclusive, logo depois de ler o primeiro já fui atrás do segundo, curiosa pra conhecer mais da trajetória da família Caskey e a pequena cidade onde vivem, que se desenrola em 6 livros.
Quando as cheias mergulham Perdido, uma vila no sul do Alabama, numa atmosfera sombria e ameaçadora, os Caskeys, a família mais rica e importante do lugar, têm de fazer face à catástrofe. Mary-Love, a imponente matriarca, e Oscar, o seu dedicado filho, não contavam, porém, com a súbita e misteriosa aparição de Elinor Dammer, uma mulher jovem, de passado conturbado, cujo único propósito parece ser infiltrar -se no seio da família Caskey.
Por que ler Blackwater?
A história gira ao redor de uma família e como a vida de seus membros muda com dois fatos que, aparentemente, não estão conectados: a cheia de um rio que destrói boa parte da cidade e a chegada no mínimo controversa de uma encantadora mulher. Conforme lemos, vai crescendo a sensação de que esses acontecimentos estão mais ligados do que pensamos.
O tema do matriarcado, pelo menos até agora, é tratado de uma forma sutil. As protagonistas são determinadas, inteligentes e conduzem a família Caskey por debaixo dos panos. O principal embate ocorre entre Mary-Love, a matriarca (até agora) da família e sua recém-chegada nora, Elinor. Mais do que uma história batida de rivalidade femenina, a luta silenciosa de ambas pelo poder é mais profunda, humana e inclusive misteriosa. Há algo mais ali, guiando as decisões que tomam, e fica a vontade de descobrir o que é.
São livros curtos e dinâmicos, com uma escrita bastante direta, sem firula, que desenrola a trama rapidamente. Tanto no primeiro como no segundo livro fiquei presa pelo ritmo da história e seus personagens. O terror aparece em alguns momentos específicos. Não passamos a leitura inteira prendendo a respiração, com medo. No geral, a história parece somente ser o relato pacato de uma cidadezinha e as picuinhas de uma de suas famílias mais influentes. Porém, em algumas cenas entramos em contato com o horror e o inexplicável de uma forma crua, sem dó nem piedade.
O autor, conhecido por suas histórias de terror, foi aclamado por ninguém menos que Stephen King, o que por si só já é uma grande recomendação. Blackwater tem um quê de macabro mesclado com realismo mágico. Há algo de sobrenatural nos rios que passam pelo povoado e a sensação de que preciso entender o que acontece por lá me conquistou. Quem realmente é Elinor e qual é sua conexão com essa cidade e seus estranhos rios?
Por que não ler?
Como qualquer livro com mais de 40 anos de idade, a linguagem é mais formal e requintada do que as histórias modernas. Então algumas partes podem ser um pouco maçantes ou até meio pomposas. Eu li os livros em espanhol e, pelo que estive buscando, acho que ainda não temos uma versão em português BR, só o de Portugal mesmo, o que pode ser meio desalentador pra algumas pessoas. De qualquer forma, sempre estão as versões originais em inglês.
Blackwater é uma saga de terror e contém cenas de mortes bastante gráficas. Como sempre digo aqui, se esse tipo de história não é pra você, ou se não está num bom momento pra esse tipo de livro, não recomendo.
A essa altura da trama sei que ainda não cheguei nem na metade do negócio, então pode ser que em algum próximo livro eu mude de ideia e a história já não me convença. Mas estou dando um voto de confiança aqui! Se alguém já leu a saga inteira, adoraria conhecer suas impressões nos comentários.
Mais sobre o livro e o autor:
Uma matéria sobre a saga e o autor (em espanhol)
Uma thread no reddit sobre o escritor, essa saga e outras de suas obras (em português)
“As mulheres são as primeiras a descobrir algo e, então, contam aos homens, caso contrário, os homens nunca descobririam nada. Depois, os empregados descobrem e, por fim, as crianças. E, às vezes, as crianças nunca descobrem, mesmo quando crescem. Há segredos que morrem.” (tradução livre)
“A Cheia”, Blackwater 1, Michael McDowell
Regie, quando a gente se encanta pela capa, já era kkkkkkkk adoro uma capa linda, é um excelente convite pra leitura.
Que bom que vc venceu o ranço, arriscou e acertou! Agora já fiquei curiosa para ler!
Nossa, que capa linda!!
Depois conta mais sobre os livro a medida que você for lendo, Regie. Fiquei curiosa.
Um beijo.