Leia “A mulher do viajante no tempo” 📚
Um livro sobre uma história de amor, de tempo e de escolhas (ou da falta delas)
Podés leer ese texto en español aquí.
Um pouco na vibe da reflexão que tive mês passado sobre livros que não conseguimos descartar, hoje venho recomendar uma história que conheci há vários anos e que continua aqui na minha biblioteca. Esse é um dos poucos livros que li mais de uma vez e cada leitura me mostrou um aspecto novo, um pequeno ou grande detalhe que me rendeu um entendimento mais profundo sobre a trama e seus personagens. Só de falar já dá vontade de ler mais uma vez!
“Odeio estar onde ela não está, quando não está. No entanto, vivo partindo, e ela não pode vir atrás.”
O romance de estreia de Audrey Niffenegger é a história de um casal que enfrenta um problema inusitado. Henry DeTamble tem uma rara condição genética: quando sofre o efeito de uma forte emoção, ele é transportado instantaneamente para o passado ou o futuro. De vez em quando, Clare Abshire, sua esposa, se vê sozinha esperando pelo seu retorno, tal qual a Penélope da mitologia grega. No entanto, onde poderia haver apenas saudade, solidão e estresse emocional, eles percebem a dádiva de poder renovar constantemente seu vínculo, olhando um para o outro sob diferentes prismas. Transportando-se aos sobressaltos para a infância, adolescência e a juventude de Clare, Henry aos poucos desvenda a mulher que ama. E ela, através da força das mudanças de perspectiva, percebe que, de qualquer ângulo, ele é responsável por alguns dos momentos mais especiais de sua vida.
Imagino a bagunça que deve ter ficado o escritório da autora Audrey Niffenegger na época que ela escreveu “A Mulher do Viajante no Tempo”. Talvez todo lugar de trabalho de um escritor em plena concepção de uma história seja um lugar meio caótico. No caso da Audrey, visualizo uma grande linha do tempo feita com fios, folhas de papel e post its interligados ocupando toda uma parede.
Suponho que quando você escreve um livro sobre viagens no tempo e seu personagem principal está sempre indo e vindo 50 anos pra frente ou pra trás, algo que te ajude a não perder o fio da meada é fundamental. E em sua história Audrey não se perde nunca.
O viajante protagonista se chama Henry DeTemble, um bibliotecário que devido a uma anomalia genética tem a capacidade de voltar ao passado ou ir até o futuro. Em qualquer momento, mas especialmente quando sente muito estresse, Henry desaparece do seu presente e chega a um novo tempo, onde pode permanecer por poucos segundos ou até mesmo dias. Porém, por mais impressionante que pareça, na realidade as viagens no tempo complicam bastante a vida desse homem.
Henry é simplesmente arrastado pelo tempo, contra a sua vontade. Ele não escolhe nem quando nem aonde vai. Além disso, ele não pode levar nada com ele quando viaja pelo passado ou futuro, então sempre chega ao seu destino temporal completamente nu e tendo que enfrentar vários dilemas. Como se explicar ao aparecer peladão num lugar cheio de gente? Ou como se proteger do frio se seu destino é um espaço aberto em pleno inverno norte-americano? Complicações assim são comuns nas viagens do Henry, que muitas vezes precisa fugir da polícia, defender-se de valentões e solucionar tantos outros problemas.
Não parece uma experiência muito agradável, né?
Algumas coisas e pessoas traem um pouco de ordem à vida de Henry. Mesmo assim, durante boa parte de sua juventude, esse viajante revoltado com sua condição se concentra em autodestruirse bebendo, usando drogas e procurando muita encrenca por aí. Tudo isso muda quando ele conhece Clare.
A jovem mulher que se torna esposa do viajante no tempo é a artista plástica Clare Abshire. O romance de Henry e Clare se torna o norte de ambos e ela é o porto-seguro para onde ele sempre pode voltar. Toda a história entre eles é construída com paradigmas temporais que poderiam dar dor de cabeça em qualquer um: quando se encontram pela primeira vez no presente, ela com 20 anos e ele com 28, na realidade no passado de Clare eles já estiveram juntos. Mas Henry ainda não viveu esses encontros porque eles estão no seu futuro. Loucura, né!
Primeiro, quando criança, ela espera esse curioso visitante que logo se torna seu amigo mais peculiar. Depois, conforme vai crescendo e se apaixonando, Clare espera pelo homem que desperta nela emoções totalmente desconhecidas e intensas. Anos depois, ambos já adultos, ela continuará a esperar por esse amor que, mesmo sem estar sempre com ela em seu presente, é a verdadeira essência da existência dos dois.
“A Mulher do Viajante no Tempo” fala sobre destino e livro-arbítrio, sobre coisas que acontecem sem nenhuma explicação e que causam um impacto gigantesco na vida de alguém. É um livro sobre o tempo, mas no qual o tempo não significa nada se comparado ao amor, às descobertas, à vida.
“Sinto muito. Se eu soubesse que você vinha, eu tinha arrumado melhor as coisas. A minha vida, digo, não só o meu apartamento”.
Mais sobre a história e a autora:
No site da escritora dá pra conhecer mais sobre esse e seus outros livros.
Muitas opiniões e comentários interessantes sobre o livro (com spoilers) nessa thread do reddit.
Essa obra já inspirou essa série e esse filme. Embora se é pra falar de filmes sobre viagens no tempo estrelado pela Rachel McAdams eu prefiro esse aqui. Nada a ver com o livro, mas não podia deixar de recomendá-lo :D
Vou assistir a série, Regie. Amei a história.
Um beijo.
Eu li esse livro há muito tempo atrás e amei. Pensei a mesma coisa: que capacidade de organização do caos incrível por parte da autora!