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Hoje trago não só uma, mas três sugestões de leitura. Nos últimos meses, por alguma coincidência curiosa da vida, livros que falam sobre temas de saúde mental têm surgido no meu caminho. E não qualquer livro, mas sim histórias que trazem visões diversas e genuínas de assuntos tão presentes no nosso cotidiano.
As três obras são bem distintas, mas tocam temas que conversam entre si, como a depressão e sua sensação de solidão extrema; a ansiedade de não saber como lidar com situações difíceis; as violências pelas quais nos forçamos a passar tentando escapar de algo que nos machuca; entre outros.
São três perspectivas e tipos de leitura diferentes que me fizeram rir em alguns momentos e chorar em outros. Posso garantir que cada uma dessas histórias toca fundo, então se estiver em um momento frágil talvez não sejam boas opções. Mas pra quem se interessar por esses temas e se sentir forte o suficiente pra conectar com as experiências de quem vive uma doença mental, são leituras que ensinam e inspiram.
Vamos lá:
Meu ano de descanso e relaxamento, de Ottessa Moshfegh
“Um romance chocante, hilário e estranhamente delicado sobre o experimento de hibernação de uma jovem, sua amiga desastrada e receitas médicas prescritas por uma das piores psiquiatras da história da literatura”.
Daquelas histórias que te fazem ficar com raiva da protagonista. Como alguém pode tomar tantas decisões ruins seguidas, meu Deus do céu? A personagem principal passa o livro inteiro determinada a alcançar o objetivo de dormir a maior quantidade de tempo possível; ela acredita que só hibernando vai poder transformar sua vida. Soa impossível, mas se tem alguém que possui os recursos necessários para conseguir essa meta bizarra é a nossa protagonista. Enquanto acompanhamos sua busca pelas drogas que vão desconectá-la o máximo possível da realidade, vamos conhecendo sua história e entendendo como seus relacionamentos com outros e consigo mesma a levaram até o fundo do poço. A protagonista é sarcástica, pessimista, terrivelmente egoísta, terrivelmente machucada. Podemos não estar de acordo com tudo que ela faz, mas com certeza é fácil se identificar com como se sente - quem nunca pensou que não seria incrível tirar uma sonequinha por uns dias e acordar quando tudo estivesse melhor?
Mais uma resenha sobre esse livro aqui.
Esto no es un hogar, de Alexandra Suzzarini
“Desde un abismo interno, rodeada de libros y un cuaderno, la escritora ingresa en un centro psiquiátrico, promesa violenta de refugio que, poco a poco, va desvelando su propia monstruosidad. Este es un relato en primera persona de todo aquello que no nos atrevemos a mirar”.
Esse livro-diário gira ao redor da experiência da própria autora, que esteve diversas vezes internada em clínicas psiquiátricas. Enquanto nos conta como é estar em um lugar assim, vamos desvendando a história da sua vida. Desde a infância conturbada, sua relação de amor e ódio com os pais, até sua fuga e desejo de ser diferente que resultaram numa vida aparentemente normal. Porém, as coisas são mais profundas do que parecem e a autora nos leva além da superfície de uma pessoa vivendo com depressão. A leitura foi uma experiência devastadora e emocionante para mim. É um relato cru e comovente desde a perspectiva de alguém que escolheu internar-se como último recurso. A escrita é poética, bela e por vezes muito triste. O livro faz a gente entender um pouco melhor as nuances das doenças mentais e as batalhas internas que as pessoas que as sofrem enfrentam. Não sei se o livro está disponível em português, mas pra quem se arrisca no portunhol é uma excelente opção.
Mais opiniões sobre o livro aqui.
Ela e o seu gato, de Makoto Shinkai & Tsubasa Yamaguchi
“Um gato e uma garota que mora sozinha se conhecem na primavera. Ao viver sozinha, ela aprende a alegria e a solidão de ser independente, enquanto o gato, que recebeu o nome de Chobi, descobre a existência do mundo através dessa garota. O tempo desses dois passa lentamente, mas a severidade do mundo acaba por alcançá-la…”
As ilustrações preciosas desse mangá podem enganar num primeiro momento, fazendo você acreditar que se trata de uma história fofinha. E é verdade que o gatinho Chobi, o grande narrador da trama, é uma gracinha. Mas a história na realidade fala sobre temas bastante duros, como a solidão, a sensação de isolamento e outras desafios tão comuns da vida adulta, que podem nos levar a uma espiral de crescente tristeza. Enquanto as estações do ano passam, Chobi observa sua dona e como o seu comportamento muda conforme ela se sente mais desconectada das pessoas e coisas que ama. O final é feliz - eu fiz questão de saber se o gato vivia, porque desde Marley & Eu me recuso a ler histórias com morte de pets! Terminei a leitura com uma sensação quentinha de esperança. Tudo sempre pode melhorar, especialmente quando contamos com pessoas (ou bichinhos) que amamos.
Outra resenha e algumas ilustrações aqui.
Como disse, há algum tempo histórias que tocam temas de saúde mental têm chegado até as minhas mãos. Não as escolhi, elas me escolheram. Os dois primeiros dessa lista foram presentes, o terceiro é um empréstimo. Talvez o universo esteja tentando me mostrar que não estou tão sozinha assim. Talvez essa também seja a mensagem que o universo queira mandar pra você que está lendo essa news ❤️
Falei do Meu Ano de Descanso e Relaxamento no Instagram quando o li e revi agora o meu vídeo. Chorei de rir, porque eu confesso que já falei algumas vezes que queria entrar em coma pra descansar. Hahahaha. Mas é interessante ver que nesse processo de autodestruição, a personagem toma um banho de água fria e acorda pra vida, entendendo (e nos passando o recado) que hibernar não resolve problemas.
Gostei da dica dos outros dois. Vou ler e te chamo pra trocar figurinhas. 😉
Fiquei muito curiosa sobre esse em espanhol, mas infelizmente não encontrei em português.
Eu amo livros assim! Obrigada pelas dicas!